As casas levaram para a selva
amazônica o jeito americano de viver. O jeito americano de morrer ainda
hoje está na visão macabra de um caixão de aço que ficou sem uso. Era tudo
tão organizado que os mortos eram levados de volta para os Estados Unidos.
Dona
América testemunhou tudo isso ainda menina. Aos 14 anos, era uma
trabalhadora. “Trabalhava como copeira, tomava conta de toda a organização
da casa. Minha patroa quase não falava português e não se envolvia com
nada”, conta.
O
sonho durou menos de 20 anos. As seringueiras plantadas de forma ordenada
foram atacadas por pragas tropicais. Ele enfrentou impostos altos, greves
e, quem imaginaria uma rebelião por causa da comida.
“A
comida vinha enlatada dos Estados Unidos, mas era preparada aqui. Dizem que
os brasileiros não se acostumaram com a alimentação do americano e por isso
houve a Revolta do Quebra-Panela, em 1930”, revela dona América.
O
sonho da borracha começou a morrer com o fim da Segunda Guerra Mundial.
Quando as sementes das seringueiras foram levadas para a Malásia, o preço
internacional despencou. “Eles ficaram como exportadores da borracha e
Fordlândia caiu”, lembra a moradora.
O
projeto extravagante do magnata americano acabou se perdendo. Da herança
não se salvou nem mesmo o moderno hospital que ele construiu. “Hoje, nem
assistência médica a gente tem aqui. Vivemos graças a Deus, porque Deus é
bom”, diz dona América.
FONTE: GLOBO REPORTER
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