sexta-feira, 15 de março de 2013

FORDLÂNDIA: O SONHO PERDIDO


Na imensidão verde, brilham as flores da maior floresta do mundo. Ao lado, as parabólicas da NASA. Os americanos, que pensam o futuro da Amazônia, também têm ligações com o passado do Tapajós. Fordlândia é um sonho perdido na margem do Rio Tapajós. O empresário norte-americano Henry Ford investiu na região mais de US$ 20 milhões para criar o maior polo de exportação de borracha das Américas. Mas perdeu tudo e nunca pisou na Amazônia porque tinha medo das doenças tropicais.
Quem se lembra com saudades da fase de ouro do Ciclo da Borracha é dona América Lobato da Conceição, brasileiríssima apesar do nome. Ela conta que os prédios vazios, abandonados, abrigaram muita vida. “Eram cinco mil trabalhadores”, ela diz.
Depois de inventar o automóvel em Detroit, o milionário Henry Ford queria tirar do solo amazônico borracha para os pneus que fariam rodar um milhão de carros Ford. Da ousadia do magnata americano restam os escombros.
A margem direita do Tapajós ainda guarda a cidade abandonada. Fordlândia e Belterra foram projetadas nos moldes americanos: água tratada e encanada, hidrantes que resistem nas ruas até hoje e novidades que os caboclos jamais tinham visto. "Tinha cinema e festa para os funcionários", conta dona América.
 
As casas levaram para a selva amazônica o jeito americano de viver. O jeito americano de morrer ainda hoje está na visão macabra de um caixão de aço que ficou sem uso. Era tudo tão organizado que os mortos eram levados de volta para os Estados Unidos.
Dona América testemunhou tudo isso ainda menina. Aos 14 anos, era uma trabalhadora. “Trabalhava como copeira, tomava conta de toda a organização da casa. Minha patroa quase não falava português e não se envolvia com nada”, conta.
O sonho durou menos de 20 anos. As seringueiras plantadas de forma ordenada foram atacadas por pragas tropicais. Ele enfrentou impostos altos, greves e, quem imaginaria uma rebelião por causa da comida.
“A comida vinha enlatada dos Estados Unidos, mas era preparada aqui. Dizem que os brasileiros não se acostumaram com a alimentação do americano e por isso houve a Revolta do Quebra-Panela, em 1930”, revela dona América.
O sonho da borracha começou a morrer com o fim da Segunda Guerra Mundial. Quando as sementes das seringueiras foram levadas para a Malásia, o preço internacional despencou. “Eles ficaram como exportadores da borracha e Fordlândia caiu”, lembra a moradora.
O projeto extravagante do magnata americano acabou se perdendo. Da herança não se salvou nem mesmo o moderno hospital que ele construiu. “Hoje, nem assistência médica a gente tem aqui. Vivemos graças a Deus, porque Deus é bom”, diz dona América.
FONTE: GLOBO REPORTER

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