Fernando Canzian
Os brasileiros vestiram verde e
amarelo e finalmente tiveram o seu dia de final de Copa do Mundo nas
manifestações deste 15 de março.
Os que foram à rua em São Paulo pareciam muito representativos dos
ricos, das menos de 15% das famílias que vivem com mais do que R$ 3.500 por mês
no Brasil (só 5% vivem com mais de R$ 7.000). As outras 80% ganham bem menos do
que isso, abaixo de R$ 3.500 mensais. Elas não pareciam estar lá em peso.
Foi claramente uma manifestação de
um Brasil rico, bem cuidado, semelhante ao que vemos em atos no Primeiro Mundo
ou nos desembarques internacionais. Os pobres e desdentados, aparentemente, não
foram.
Os brasileiros mais ricos dos
grandes centros urbanos têm razões para reclamar. Eles são os que menos
ganharam, proporcionalmente, durante os governos do PT. Nos dez anos até meados
do primeiro governo Dilma, a renda real per capita (descontada a inflação)
entre os 10% mais pobres subiu 70%. Entre os 10% mais ricos (esses da
manifestação) o aumento foi de apenas 12,6%.
Esse pessoal também foi o mais
espremido ao longo dos últimos anos por uma renitente inflação de serviços.
Isso inclui desde trabalhadores domésticos e estacionamento na Vila Madalena a
escolas e planos de saúde particulares.
Entre os mais pobres, não só a renda
cresceu bem mais rápido. Houve proliferação de programas sociais como Bolsa
Família, Minha Casa Minha e Vida e Luz para Todos. Isso garantiu ao PT, nas
duas últimas eleições, a vitória por conta do resultado preponderante do
Nordeste mais pobre.
Aos mais ricos, concentrados nas
regiões Sul e Sudeste, restou dar respostas contundentes como a reeleição de
Geraldo Alckmin no primeiro turno em 2014, apesar da crise hídrica. E, agora,
com esse tipo de manifestação, embalada pela corrupção.
Mas se os pobres não apareceram em
peso desta vez, eles seguem como maioria no Brasil. E, pela primeira vez em
muitos anos, começam a ficar para trás.
Segundo o último dado do IBGE, os
10% mais pobres levaram um tombo a partir de 2013. Sua renda cresceu apenas
2,1% naquele ano, metade da média nacional e bem abaixo, inclusive, da dos 10%
mais ricos (4,4%). A queda no ritmo de melhora dos mais pobres é brutal. Um ano
antes, a renda deles havia crescido 9,2%.
Nessa toada, os ricos certamente
podem ganhar reforço na rua nos próximos meses.
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