Nada paga o que passei, afirma motorista envolvido em acidente de JK
PAULO PEIXOTO
DE BELO HORIZONTE
Prestes a completar 70 anos na quinta-feira (7), Josias Nunes de Oliveira, o motorista do ônibus envolvido no acidente que matou o presidente Juscelino Kubitschek em 22 de agosto de 1976, voltou a falar nesta segunda-feira (4) sobre o caso, em que chegou a ser acusado. DE BELO HORIZONTE
O depoimento do motorista foi dado na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que agora quer que o Estado brasileiro faça um pedido formal de desculpas a ele e lhe dê compensação financeira na forma de correção da sua aposentadoria por invalidez. "Nada paga [o que passei]", disse ele.
Tal como no depoimento que prestou na Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, há 35 dias, Oliveira chorou ao contar o drama que viveu quando tentaram fazer com que ele assumisse a culpa pelo acidente.
Então motorista da Viação Cometa, ele voltou a repetir que dois homens foram até a sua casa em São Paulo, cinco dias após o acidente, e lhe ofereceram "uma mala cheia de dinheiro, não era pasta" para que ele dissesse que o ônibus que dirigia na Via Dutra bateu no Opala de JK.
Divulgação | ||
Presidente Juscelino Kubitschek acena para a multidão em carro aberto, em São Bernardo do Campo (SP), em 1959 |
Oliveira disse que se separou da família por causa disso, nunca mais trabalhou e foi aposentado por invalidez. Atualmente ele vive em um lar para idosos, em São Paulo.
A versão oficial do acidente, na época, é que o ônibus bateu na traseira do Opala, que cruzou a rodovia e se chocou de frente com um caminhão na pista contrária. JK e seu motorista e amigo, Geraldo Ribeiro, que iam de São Paulo para o Rio, morreram na hora, em Resende (RJ).
"Eu vi o acidente e parei para socorrer. Eu não bati nem ele [o Opala] me bateu. De lá para cá a minha vida acabou", disse Oliveira, que, em agosto de 1977, quando foi inocentado, já havia contado à Justiça sobre a oferta de dinheiro que recebera.
Na ocasião, o país vivia o período da ditadura militar (1964-1985), da qual o ex-presidente era opositor. Por isso, amigos de JK sempre levantaram a suspeita de que Geraldo Ribeiro, o motorista do ex-presidente, possa ter sido alvejado com um tiro na cabeça, o que teria acarretado a batida contra o caminhão. Novas investigações estão sendo feitas sobre o caso.
Ao fim do depoimento, Oliveira recebeu do ex-fotógrafo de JK José Goes, um título do "Clube dos Amigos de JK". A comissão de Direitos Humanos vai preparar um processo para ser enviado à Comissão Nacional de Anistia para que o Estado brasileiro apresente desculpas e corrija a aposentadoria dele para o equivalente ao vencimento de um motorista de ônibus interestadual.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Fonte: Folha de S Paulo |
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