Com 30 policiais mortos desde o início do ano e um efetivo que está longe de atender a demanda do Pará, policiais civis e militares são obrigados a contar com a sorte sempre que saem às ruas a trabalho. Moradores, em sua maioria, de bairros periféricos de Belém e usuários dos mesmos serviços que o resto da população, os responsáveis por zelar pela segurança do Estado acabam virando, também, alvo de bandidos. Apenas na última semana, quatro perderam a vida.
Mais recente vítima dos 29 policiais militares já assassinados de janeiro até ontem, o cabo Ivanildo Santos de Freitas, de 41 anos, morreu após ser baleado durante um assalto. Dependente do transporte público alternativo, como grande parte dos belenenses, o homem virou alvo assim que foi identificado como policial. Ivanildo foi morto com os tiros disparados pela própria arma.
Diante do sepultamento de mais um policial na manhã de ontem, a Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militares do Pará (ACSPA) acredita que o número elevado de mortes diz respeito a um problema que envolve o próprio sistema de segurança aplicado hoje. “O problema da segurança pública hoje é o próprio sistema, porque os governantes não colocam a segurança pública no seu plano de governo”, critica o cabo PM e presidente da associação, Francisco Xavier. “Temos comissões de justiça em todo lugar, mas ninguém quer saber onde está esse policial, como ele está trabalhando. Os policiais militares estão morrendo direto e ninguém faz nada”.
Além da falta de estrutura e investimentos na área, Xavier ainda atenta para um problema que está longe de ser só da Polícia Militar. Com cada vez mais bandidos nas ruas, o efetivo da polícia não é suficiente para coibir os crimes em um Estado como o Pará. “Hoje, o efetivo da PM é de 14 mil. É insuficiente. Na capital, temos um policial para 280 habitantes e no interior isso é bem pior, temos um policial para cada 780”, aponta, ao relacionar a insuficiência, também, a programas de segurança do Governo Federal. “Precisamos de mais efetivo, condições de trabalho e uma lei mais severa. O governo federal montou a Força Nacional, que é formada pelos PMs dos Estados, e não temos efetivo para dar segurança para a sociedade. A Força Nacional é para dar apoio em casos de maior repercussão, mas está tirando os nossos policiais”.
Com efetivo pequeno, os policiais trabalham no limite
Sem que o problema seja exclusividade deste ano, a quantidade de policiais mortos no Estado até o início de novembro deste ano quase já atinge o número registrado durante todo o ano de 2012, quando 32 policiais foram mortos, dentre civis e militares. Com dois policiais civis assassinados em 2013, o Sindicato dos Servidores Públicos da Polícia Civil do Pará (Sindpol) também reclama da falta de efetivo. “Temos 2.400 policiais no Estado e seria necessário de 5 a 6 mil policiais para atender, de fato e de direito, a nossa população”, afirma o presidente do sindicato, Rubens Teixeira. “O aumento de efetivo, através de concurso público, ajudaria a amenizar essa situação de mortes de policiais. O número de policiais vai se acabando porque vão falecendo, se aposentado, e a criminalidade vai aumentando”.
Na visão de Rubens, o quadro de insegurança enfrentado hoje, inclusive pelos policiais, é reflexo da forma como o sistema de segurança está sendo gerenciado. “Estamos desde janeiro falando sobre essa política pública falida do governo. O que está acontecendo com os policiais nada mais é do que reflexo dessa política sem estrutura. Hoje, essa falta de estrutura de trabalho está refletindo diretamente em cima dos policiais”, acredita. “Se fizessem uma política de segurança séria, os policiais teriam treinamento de três em três meses. Muitas vezes, o policial fica inerte porque não sabe que atitude tomar. Ele entra na academia de formação e acabou. A rua é quem ensina e por isso acontecem essas fatalidades”.
Com mais de 50 dias para que termine o ano de 2013, a categoria teme que o número de policiais mortos no Pará seja ainda maior. “Essa estatística vai aumentar se o governo não tomar uma atitude”, acredita. “Isso poderia ser evitado se o policial estivesse bem preparado psicologicamente e fisicamente”.
Resposta
Em nota, a assessoria da Polícia Militar informou que “a PM vem realizando o curso de Capacitação para Ações de Sobrevivência Policial, orientando medidas e comportamentos que os mesmos precisam adotar quando estiverem de folga, a fim de minimizar sua exposição e risco de letalidade” e que mais de 70% dos militares já foram contemplados com armamentos que ficarão com eles até quando estiverem de folga.
A nota afirma ainda que “os três últimos casos de mortes de policiais, em Castanhal, Belém e Santarém, ocorreram com policiais da ativa, fora de serviço, quando a PM disponibilizou à família o atendimento psicossocial e está apurando os casos, por meio de Inquérito Policial Militar, via Corregedoria PM”.
(Diário do Pará)
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